A palavra "mistagógico" vem de mistério e, na vida da Igreja, nas atividades catequéticas, faz referência, principalmente, ao mistério pascal: paixão, morte e ressurreição de Jesus. O caminho catequético, o "ensinamento dos apóstolos", passou e continua passando pela celebração do mistério, visto que não o podemos compreender, mas celebrar e viver. vamos aprender com as primeiras comunidades esse caminhar mistagógico.
Os sacramentos — caminho de vivência do mistério
Ensinar a celebração e viver o mistério cristão não foi tarefa fácil para as primeiras comunidades, porque estavam cercadas por outras religiões que também celebravam mistérios, mas com o sentido bem diferente dos cristãos. Por isso, foi preciso tomar muito cuidado para não confundir os homens e mulheres que se aproximaram das comunidades, mas ajudá-los no processo de iniciação à vida cristã.
Essa caminhada ficou conhecida como o rito de iniciação dos cristãos, acolhendo as pessoas que queriam participar da comunidade cristã e preparando-as para essa vivência por meio dos sacramentos iniciais: o batismo, a crisma e a eucaristia.
Os primeiros cristãos compreendiam que somente após a iniciação a pessoa estaria "preparada" para receber os ensinamentos sobre os mistérios. Em ritual antigo, ao receber os sacramentos, os novos cristãos ouviam: "Tomaste parte nos sacramentos e tens pleno conhecimento de tudo, uma vez que és batizado em nome da Trindade" (Os sacramentos, III, 12). Como lembra Paulo apóstolo: "Na realidade, é aos maduros na fé que falamos de uma sabedoria que não foi dada por este mundo (...) Ensinamos uma coisa misteriosa e escondida: a sabedoria de Deus" (1Cor 2. 6-7a).
O batismo, como o mergulho na nova vida em Cristo, oferece essa "iluminação", capaz de levar a pessoa ao conhecimento ao conhecimento, isto é, à participação no mistério trinitário de salvação. Assim, a pessoa morre para a vida que levava e nasce para a nova vida em Cristo: podendo participar da vida e morte do Senhor, também participa de sua ressurreição.
Mais do que celebrar, viver!
A introdução aos mistérios da fé, a mistagogia, era uma etapa no processo de iniciação dos cristãos, que ocorria no tempo pascal. A pessoa já batizada, era conduzida à contemplação e experiência dos mistérios da fé na vida em comunidade, sobretudo na liturgia, auxiliada pelos evangelhos próprios desse tempo (cf. PAIVA, V., Catequese e liturgia, duas faces do mesmo mistério, Paulus, 2008, p. 35)
Mas havia, entre os primeiros cristãos, a preocupação de que a vivência da fé não fosse confundida com a "mera" celebração dos ritos. Os ritos só têm sentido quando ajudam a celebrar a vida, unida à fé e iluminada por ela. Foi assim com Cristo: sua vida e atividade culminaram com a ressurreição. Portanto, o cristão também é chamado a viver o mistério, gerando ressurreição, para que homens e mulheres tenham vida plena. Esse é o sentido do amor cristão. João, o evangelista, em sua primeira carta, escreve: "Compreendemos o que é o amor, porque Jesus deu a vida por nós; portanto, nós também devemos dar vida pelos irmãos (...). Filhinhos ], não amemos com palavras nem a língua, mas com obras e de verdade" (1Jo 3, 16. 18).
É nesse sentido que Vanildo de Paiva salienta em seu livro já citado que "o anúncio da palavra não era transmitido como uma adesão intelectual, teórica, 'de cabeça', mas com o entusiasmo daqueles que experimentavam, na vida pessoal, a força do mistério pascal (...). A autenticidade do mistagogo estava não somente no que falava, mas no que experimentava e testemunhava na vida cotidiana" (p. 37).
Liturgia e catequese juntas
A marca registrada da iniciação da fé dos cristãos nas primeiras comunidades é a união profunda entre catequese e liturgia. Como vimos anteriormente, essa iniciação se dava unindo a celebração dos sacramentos (dimensão litúrgica) com o "conhecimento" da fé (dimensão catequética). A mistagogia era esse "aprofundar" no conhecimento da fé, após a iniciação sacramental.
O anúncio da palavra suscita a fé e leva a pessoa ao encontro com Cristo. O mistério cristão, celebrado nos ritos sacramentais, atualiza o acontecimento Jesus Cristo, faz a "memória" do Senhor, morto e ressuscitado. O batismo é a primeira páscoa, transformando radicalmente a pessoa que o recebe; a crisma torna-a participação do dom do Espírito e a eucaristia é a celebração plena da Páscoa de Cristo pela Igreja. Como aforma a Rica (Ritual de Iniciação Cristã de Adultos), "como a iniciação cristã é a primeira participação sacramental na morte e ressurreição de Cristo (...) toda a iniciação deve ter caráter pascal" (n. 8).
Há uma relação entre o anúncio do mistério com a celebração, entre a celebração da fé e a vivência cristã. A graça celebrada prossegue na vida e leva ao testemunho, ao anúncio aos outros. Dessa forma, as primeiras comunidades não separam as dimensões do anúncio, da celebração, do martírio, do serviço e da missão. Antes, entendem que elas compõem a vida cristã como um todo.
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