terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O livro do Êxodo

   O termo êxodo quer dizer "saída". O segundo livro do Pentateuco traz este nome porque começa com o processo de libertação dos hebreus que eram escravizados na terra do Egito, fato ocorrido por volta do ano 1.250 antes de Jesus Cristo. 
   Quem não conhece a mensagem deste livro nunca irá entender o sentido de todos as sagradas escrituras, porque está fundamentada no livro do Êxodo a noção e a ideia que se tinha de Deus, seja no antigo ou no novo testamento. 

Qual é a mensagem central do livro do Êxodo?

      É a revelação do nome do Deus verdadeiro: Javé, que, na realidade do Êxodo, está ligado ao ato libertador de Deus para com o povo hebreu. Javé é um Deus único, que ouve o grito de seu povo escravizado, oprimido, e o conduz à liberdade para selar uma aliança, dando ao povo uma lei que transforma as relações entre as pessoas. É disso que nasce uma comunidade em que são garantidas a vida, liberdade e a dignidade. A aliança é selada de duas maneiras: como princípios de vida (os dez mandamentos), que têm a missão de orientar o povo para uma vivência social, e as leis (código da aliança), com a finalidade de conduzir o povo a uma vivência dos mandamentos nas várias realidades da vida social.

Por que é um Deus libertador?

   Porque, por meio de sua ação e mandamentos, oferece a liberdade para todos os tipos de escravizadão, para que o ser humano se coloque a serviço desta libertação em todos os âmbitos da vida. Por causa da libertação integral que aparece no decálogo e no código da aliança, em beneficio do ser humano, é que podemos perceber quem é o Deus único e verdadeiro, aquele que promove a vida do ser humano: este é Javé, digno de adoração. Qualquer noção de Deus, fora do âmbito da realidade da libertação humana, é um ídolo, e de ver rejeitado. 

Qual será o verdadeiro Deus?

   A esta pergunta, o livro do Êxodo nos aponta para toda bíblia, sobretudo na opção de vida de Jesus, sua encarnação, opção pelos pobres e sua atividade manifestando o reino de Deus. Por esta razão, o livro do Êxodo é de vital significado para o nosso entendimento a respeito de Jesus de Nazaré como Filho de Deus, e para nossa compreensão de que vem a ser o reino de Deus.

Esquema do Livro

   Ex 1, 1-22: o povo de Israel no Egito; 2, 1-22: nascimento e chamado de Moisés; 2, 23-25: Deus lembra-se da aliança com os ancestrais de Israel; 3, 1-6: a sarça que arde; 3, 7-10: é o coração do Êxodo; 3, 11-7, 7: chamado e resposta vocacional de Moisés; 7, 8-13, 16: temos a Páscoa, passagem de Deus que identifica e liberta seu povo; 13, 17-16, 21: saída do Egito, o Êxodo propriamente dito; 15, 22-18, 27: o povo hebreu no deserto; 19, 1-20, 21: a aliança e os dez mandamentos; 20, 22-23, 33: o código da aliança; 24, 1-18: conclusão da aliança; 25, 1-31, 18: prescrições que se referem à construção do santuário e seus ministros; 32, 1-35, 35: bezerro de ouro ou infidelidade do povo; renovação da aliança; 36, 1-40, 23: construção do santuário. 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A Catequese dos Pregadores Medievais


• Uma pregação itinerante

   A pregação religiosa na Idade Média ocorreu de diversas formas, em muitas situações diferentes. Havia muitos pregadores pelas ruas, palácios, estradas, mercados, feiras, pequenas vilas e mosteiros. Buscava-se anunciar Jesus e os valores do evangelho em linguagem popular, por meio de histórias, exemplos, poesias... Papa muitos, essa era uma das poucas formas, se não a única, de anúncio do evangelho, de conhecer as histórias e personagens bíblicos e de aprender as virtudes cristãs. 
  São os monges que mais se destacam no exercício da pregação, em vários países da Europa. Na Irlanda, são esses pregadores que recordam as exigências cristãs, enquanto peregrinam ou perambulam de vila em vila, de cidade em cidade. No caminho, vão fundando mosteiros e generalizando a prática da confissão privada. Destaca-se entre eles, Columbano. Outros monges, de tradição beneditina, também se põem a caminho, como Agostinho e Beda, o Venerável, pregando e comentando as Escrituras.
  Dessa forma, de país em país, o cristianismo vai se propagando entre os povos europeus, não sem as contradições e dificuldades humanas, como a língua, os costumes e os jogos de poder.

• As ordens medicantes

 Os chamados monges mendicantes eram também pregadores. Viviam e pregavam a pobreza, denunciando a riqueza conquistada com usura, o que era contra os princípios evangélicos, e trabalhando para sua subsistência. O rosto do Cristo pobre era o modelo para esses homens e mulheres.
  São Domingos, fundador dos Dominicanos, colocou a pregação no centro da atividade da ordem, o que exigiu uma reorganização da vida religiosa para que os irmãos se dedicassem ao estudo. Deram grande atenção à vida religiosa feminina, criando o que se chamou de "segunda ordem".
 São Francisco de Assis fundou a ordem dos "Irmãos Menores". Sua decisão pela vida pobre tornou-se grande testemunho cristão do seu período, e também um modelo de vida para toda a humanidade. Junto com seus companheiros, Francisco sai a anunciar, com alegria, boa-voa da paz.
  Os carmelitas, por sua vez, nasceram como ordem contemplativa, durante o tempo das cruzadas. Foram os seus reformuladores que deram à ordem também o caráter evangelizador, como Simão Stock, que foi um pregador popular. Assim, dirigiram-se às cidades, onde realizaram uma ação evangelizadora entre o povo. Com a reforma de Tere a D'Ávila e João da Cruz, houve a mescla entre a vida contemplativa e o espírito apostólico, sendo os Carmelitas os cofundadores da Congregação para a Propagação da Fé (1622). 
  Na atividade da pregação os monges premostratenses, ordem fundada por são Norberto de Xanten, também se destacaram. Eram pregadores ambulantes que tinham no apóstolo Paulo o modelo de evangelizador. Foram seguidos por homens e mulheres. Estas tiveram, pela primeira vez na Idade Média, um acampamento espiritual. Os monges ambulantes também se organizaram em mosteiros e dedicaram grande esforço na evangelização do povo simples. Dessa forma, foi-se configurado um certo tipo de sacerdotes, o do povo. 

• Como pregavam

  A pregação, como educação da fé, fica mais evidente no século XIII, quando os pregadores se tornam mais próximos do povo e procuravam usar o idioma local, como vimos pelo exemplo das ordens medicantes. Nem todos são sacerdotes e precisam de autorização da hierarquia da Igreja para pregar. Os que rompem com a doutrina e com essa forma de organização são considerados hereges. 
  Para combater as heresias, os pregadores utilizavam de várias estratégias, entre elas a de mudar o local do sermão nas Igrejas, com o púlpito no meio dos fiéis; a de pregar em lugares fora das Igrejas, como perto dos moinhos (são Domingos); o de utilizar a vida cotidiana como fonte para os exemplos. 
  Além disso, os ouvintes podiam participar das pregações, manifestando suas opiniões, perguntando, aplaudindo ou o contradizendo o pregador.
 Os pregadores procuram também converter os muçulmanos pela persuasão do discurso. Vários vão acompanhar as Cruzadas com esse intuito, como são Bernardo de Claraval e são Francisco de Assis. Desse último, conhecemos a história de sua tentativa de converter o sultão do Egito. 
 Além de combater às heresias, as pregações possuíam também um caráter moral, com o ensinamento das virtudes e contra os vícios. 



domingo, 2 de fevereiro de 2014

Dos Sermões de São Sofrônio, bispo

Recebamos a luz clara e eterna

Todos nós que celebramos e veneramos com tanta piedade o mistério do encontro do Senhor, corramos para ele cheios de entusiasmo. Ninguém deixe de participar deste encontro, ninguém recuse levar sua luz.
Acrescentamos também algo ao brilho das velas, para significar o esplendor divino daquele que se aproxima e ilumina todas as coisas; ele dissipa as trevas do mal com a sua luz eterna, e também manifesta o esplendor da alma, com o qual devemos correr ao encontro com Cristo.
Do mesmo modo que a Mãe de Deus e Virgem imaculada trouxe nos braços a verdadeira luz e a comunicou aos que jaziam nas trevas, assim também nós: iluminados pelo seu fulgor e trazendo na mão uma luz que brilha diante de todos, corramos pressurosos ao encontro daquele que é a verdadeira luz.
Realmente, a luz veio ao mundo (cf. Jo 1,9) e dispersou as sombras que o cobriam; o sol que nasce do alto nos visitou (cf. Lc 1,78) e iluminou os que jaziam nas trevas. É este o significado do mistério que hoje celebramos. Por isso caminhamos com lâmpadas nas mãos, por isso acorremos trazendo as luzes, não apenas simbolizando que a luz já brilhou para nós, mas também para anunciar o esplendor maior que dela nos virá no futuro. Por este motivo, vamos todos juntos, corramos ao encontro de Deus.
Chegou a verdadeira luz, que vindo ao mundo ilumina todo ser humano (Jo 1,9). Portanto, irmãos, deixemos que ela nos ilumine, que ela brilhe sobre todos nós.
Que ninguém fique excluído deste esplendor, ninguém insista em continuar mergulhado na noite. Mas avancemos todos resplandecentes; iluminados por este fulgor, vamos todos ao seu encontro e com o velho Simeão recebamos a luz clara e eterna. Associemo-nos à sua alegria e cantemos com ele um hino de ação de graças ao Criador e Pai da luz, que enviou a luz verdadeira e, afastando todas as trevas, nos fez participantes do seu esplendor.
A salvação de Deus, preparada diante de todos os povos, manifestou a glória que nos pertence, a nós que somos o novo Israel. Também fez com que víssemos, graças a ele, essa salvação e fôssemos absolvidos da antiga e tenebrosa culpa. Assim aconteceu com Simeão que, depois de ver a Cristo, foi libertado dos laços da vida presente.
Também nós, abraçando pela fé a Cristo Jesus que nasceu em Belém, de pagãos que éramos, nos tornamos povo de Deus – Jesus é, com efeito, a salvação de Deus Pai – e vemos com nossos próprios olhos o Deus feito homem. E porque vimos a presença de Deus e a recebemos, por assim dizer,nos braços do nosso espírito, somos chamados de novo Israel. Todos os anos celebramos novamente esta festa, para nunca nos esquecermos daquele que um dia há de voltar.

(Orat. 3, de Hypapante,6.7: PG87,3,3291-3293)
(Séc.VII)



sábado, 1 de fevereiro de 2014

Oração da Coleta e Liturgia da Palavra

   A oração da coleta ou oração do dia é uma oração antiga, que tem sua origem os antigos sacramentários da tradição latina e oriental, o Sacramentário Gelasiano e o Sacramentário Gregoriano. Estes dois sacramentários estão na baso do nosso missal romano composto no século VII.
  O missal romano contempla três movimentos fundamentais na dinâmica do Sacrifício Eucarístico: o primeiro movimento são os ritos iniciais. O segundo se refere ao ofertório e o terceiro ao ritual de comunhão.
   A oração da coleta conclui os ritos iniciais, que são a acolhida da comunidade para o Santo Sacrifício, em suas duas partes fundamentais: Liturgia da palavra e Liturgia sacrifical (ou liturgia eucarística).
  A teologia da oração da coleta é a apresentação de toda comunidade a Deus para celebrar o mistério eucarístico. A comunidade vem à Igreja, cumprimenta o Senhor que a acolhe pede perdão de suas faltas, louva a Deus por suas maravilhas e se dispõe a celebrar. É o ápice dos ritos iniciais.
   Neste momento, o sacerdote acolhe a comunidade que faz seus pedidos silenciosamente e os apresenta a Deus, diante do altar eucarístico. Esta apresentação implica nos pedidos silenciosos, nos nomes dos fiéis defuntos e, quando houver memória santoral, os santos congregam-se à comunidade. 
  Algumas características são fundamentais. Podemos recordar que a assembléia está em pé, em sinal de abertura e disposição para celebrar.
 Quando o celebrante convida o povo para esta oração, todos fazem silêncio. É muito importante este silêncio, pois é o espaço pessoal para que o fiel se coloque diante de Deus, agradeça por sua vida e formule interiormente seus pedidos. 
  A oração coleta exprime a índole da celebração, ficando explícito se é uma missa solene, celebração santoral, solenidade dominical e, sobretudo, o tempo litúrgico.
  Os elementos oracionais mais evidentes são a invocação a Deus, os pedidos espirituais e o congregamento da comunidade para celebrar, com fé e fervor, o Sacrifício do Senhor. 
  Após o amém da oração coleta, a comunidade senta-se, mas deve esperar o celebrante dirigir-se à cadeira. A Liturgia da Palavra, que vem a seguir, tem um conteúdo de maior importância, pois é nesta hora que Deus nos fala solenemente. É o povo de Deus que está presente para ouvi-lo.

Palavra de Deus para os homens de boa vontade

   Deus, que está sempre presente pela criação, por sua ação na história e pelas inspirações sagradas, sempre se comunicou conosco, como nos ensina Paulo (cf. Cl 1, 15; 1Tm 1, 17), e o faz de formas variadas e misteriosas.
   A forma escolhida por Deus é a palavra como busca de intimidade e de integração divino-humana. A palavra de Deus cria comunhão. Para que Deus seja compreendido, Ele recorre à linguagem humana, pois sendo seu criador, conhece suas criaturas e pode, assim, enviar sua mensagem de fé. Ao invocar os seres humanos, Deus narra e interpreta nossa história, manifestando cada vez mais seu rosto e seu amor.